PREFÁCIO
Amor absoluto, devoção infinita e poder sobre as mentes, corpos e almas humanas — tudo isso estará disponível para você! Basta seguir as técnicas deste manual. Uma série de táticas para aqueles que querem se tornar líderes de seita ajudará você a se transformar de um simples mortal em um deus vivendo entre nós. Mas tenha cuidado neste caminho, pois a situação pode sair de controle. Está pronto para subjugar algumas almas?
O que entendemos por seita? Um culto é um sistema de adoração religiosa voltado para uma determinada entidade ou objeto. Uma seita é um grupo de pessoas reunidas em torno de uma figura influente, carismática e frequentemente autocrática. Muitas vezes, esses grupos envolvem elementos de controle da mente e supressão da liberdade de pensamento, e seu fim quase sempre é marcado por derramamento de sangue e mortes. Na verdade, os cultos oferecem às pessoas uma sensação de pertencimento. É comum ao ser humano querer respostas simples para todas as questões, desejar fazer parte de algo maior. Na vida de cada pessoa, há momentos em que nos desviamos do caminho e nos tornamos vulneráveis à influência externa. E é aí que aparece o «bom» líder da seita, oferecendo seu conhecimento, amor, pertencimento a uma grande causa, uma missão de vida, etc.
Com este guia em mãos, você aprenderá a submeter as fraquezas humanas e fazer com que elas trabalhem para você. Os líderes precisam dizer o que as pessoas querem ouvir, vê-las como mecanismos sem alma e buscar aquele botão no qual podem apertar — uma recompensa que motiva as pessoas a seguir suas ordens. Mas antes de transformar as vidas das pessoas, você precisa primeiro transformar a si mesmo! Duvido que alguém tenha feito isso melhor do que Charles Manson — um pequeno criminoso e cantor fracassado que acabou se tornando uma lenda de outro tipo.
Capítulo I. ALICERCE
Setembro de 1970. Foi neste dia que Charles Manson foi levado a julgamento pelo assassinato, com algemas nas mãos. Um ano antes, ele inspirou seus seguidores a cometer uma série de crimes brutais. Não se pode negar uma coisa: ele usou suas habilidades ao máximo. Ele era um ator na vida e se entregou ao seu papel mais profundamente do que qualquer um poderia imaginar. Você está pronto para saber como Charles se tornou uma «lenda»? Tudo começou com a escolha das prioridades certas.
LIÇÃO 1. ACEITE SUA VOCAÇÃO
Não é possível se tornar o líder de uma seita se você não se distingue dos outros. Os líderes mais bem-sucedidos afirmam e realmente acreditam que são diferentes de todos. Em outras palavras, todos os líderes de cultos, sem exceção, são narcisistas patológicos, que não se importam com ninguém além de si mesmos. A seguir, você encontrará provas de que os melhores gurus pensavam quase desde o nascimento apenas em si mesmos.
Na infância, James Warren «Jim» Jones (13 de maio de 1931 — 18 de novembro de 1978), pregador americano e fundador da seita destrutiva «Templo dos Povos», forçava seus irmãos mais novos a cumprir suas ordens e, caso se recusassem, os espancava com um bastão. Quando Shoko Asahara, fundador da seita «Aum Shinrikyo» (aqui e adiante, referida como a organização proibida na Rússia), frequentava uma escola japonesa para deficientes visuais, ele recebia dinheiro de bolso extorquindo seus colegas sob o pretexto de pagar por sua proteção.
O reverendo Sun Myung Moon, líder religioso sul-coreano e fundador do movimento religioso «Igreja da Unificação», conhecido por realizar «cerimônias de bênção» em casamentos, cujo objetivo proclamava ser a construção de um mundo harmonioso através do fortalecimento do casamento tradicional, afirmou que, no domingo de Páscoa, quando tinha dezesseis anos, Jesus apareceu para ele e disse que Moon seria o novo enviado de Deus, destinado a concluir o que Jesus havia começado. No entanto, Jesus não demonstrou o mesmo interesse por Charles Manson.
Manson nasceu como uma criança não desejada: ele nasceu em Cincinnati, sem saber quem era seu pai e com uma mãe problemática. Charlie ainda era um bebê quando sua mãe e tio foram presos por assalto e enviados para a prisão de West Virginia. Então, ele foi morar com outros tios em uma pequena cidade chamada Moundsville. Esse lugar remoto era difícil de encontrar, e foi lá que começou a se formar a vocação de Manson. Charlie tinha apenas cinco anos quando se mudou para a casa de seus parentes, mas já sabia como defender seus próprios interesses. Como novo na escola, ele imediatamente se tornou o «bode expiatório»: ele era intimidado, espancado, e suas economias e doces eram roubados. Manson desejava vingança, mas sozinho ele não conseguiria, por isso usou seu talento inato — o talento de convencer os outros. Ele encontrou aqueles que demonstraram simpatia e usou seu charme. Alguns dias depois, as novas amigas de Charlie realizaram a tão esperada vingança. Quando foram ao gabinete do diretor, as meninas que defendiam Charlie disseram que ele as havia incitado. Manson negou tudo — e de forma bastante convincente. O diretor acreditou nele, e assim Manson escapou da responsabilidade, assumindo o papel de vilão, enquanto toda a culpa recaiu sobre suas cúmplices.
Encontrar seu ponto forte é um bom começo, mas, para ser líder de um culto, é necessário mais do que apenas a atitude correta. Além disso, é necessário criar um sistema único de crenças que será construído em torno de você. E não deve se limitar à sua imaginação.
LIÇÃO 2. DEFINA O DOGMA
As seitas se apresentam de várias formas: há seitas religiosas, seitas de ajuda mútua, onde reina o culto ao sucesso, e onde todos veneram as conquistas; existem seitas esotéricas que exaltam a espiritualidade e, finalmente, há seitas nas quais não necessariamente há uma ideologia unificada seguida por todos — são mais cultos à personalidade. Escolha o que mais lhe convém. O principal é lembrar: a «verdade» deve ser apresentada de forma convincente. Os líderes dos cultos escolhem a posição que lhes é mais vantajosa. É preciso encontrar um pedacinho da verdade e se convencer de que ela é real. E, ainda assim, não espere conseguir isso em uma única noite — talvez você precise de um tempo como eremita, se aprofundar em reflexões e pensar profundamente. No caso de Manson, esse lugar foi a prisão. Charles foi parar lá após decidir cometer furtos de automóveis, mas não perdeu tempo. A prisão foi um ótimo local de aprendizado, e ele absorveu tudo como uma esponja. Foi lá que Charles conheceu proxenetas, que se tornaram seus ídolos — havia muito a aprender com esses caras. Mas também havia outras fontes de conhecimento, especialmente a biblioteca da prisão.
O tempo que Manson passou atrás das grades foi dedicado à busca por si mesmo. Ele estudou os ensinamentos de Buda, a ideia do ciclo de Samsara no hinduísmo e até a nova filosofia que prometia revelar o potencial humano: a cientologia. A isso se somaram as músicas de sua banda favorita, The Beatles, pelas quais ele se apaixonou cada vez mais. Surgiu uma mistura heterogênea, mas para Charlie tudo isso se tornou a estrela-guia para o despertar. E o ingrediente secreto veio de uma fonte ainda mais inusitada. O curso mais popular nas prisões americanas era o curso de Dale Carnegie Como conquistar amigos e influenciar pessoas. O curso era tão popular que havia uma lista de espera para participar. Manson era um grande fã de Carnegie. Carnegie ofereceu dicas úteis: por exemplo, faça com que seu interlocutor fale mais, faça-o se sentir importante, chame-o pelo nome com mais frequência — todos gostam disso. Mesmo que você discorde de algo, não diga às pessoas que estão erradas — apenas faça perguntas e faça com que elas pensem que seus pensamentos são, na verdade, os delas. Técnicas de vendas, manipulação de emoções — tudo isso foi útil para um líder de culto iniciante. Esses métodos funcionaram para Carnegie e, em seguida, para Charles Manson. Com a ajuda do mestre das vendas, ele criou seu próprio ensinamento, mas, para conquistar completamente a imaginação humana, era necessário adicionar um pouco de brilho. Este guia também falará sobre isso.
LIÇÃO 3. CRIE SUA PERSONA
Grandes líderes de culto não nascem — eles se tornam, e a maneira como você se apresenta ao mundo pode influenciar consideravelmente seu status. Líderes de culto se alimentam de sua imagem, e é importante causar uma boa impressão. Você precisa demonstrar que pode fazer algo que ninguém mais pode, e não ter medo de chegar lá por meio de um caminho experimental. Isso é semelhante à criação de um anúncio: se você não conseguiu chamar a atenção de alguém, tente novamente!
Após seu último mandato, o jovem Charles Manson, de 32 anos, estava pronto para colocar em prática essa técnica do manual. É difícil imaginar tempos melhores para um líder de seita. Na década de 1960, havia uma grande confusão. A América estava em constante mudança; já haviam ocorrido muitos assassinatos políticos: de John F. Kennedy, Martin Luther King. Além disso, a Guerra do Vietnã, que era extremamente impopular, estava em andamento. A sociedade estava repleta de desconfiança nas instituições que deveriam sustentá-la, e, por isso, as pessoas estavam cada vez mais voltando sua atenção para comunidades alternativas, relações e significados, buscando preencher esse vazio. Oferecendo o preenchimento certo, você se tornará o fornecedor de significados. Mas você também precisará de uma arma secreta, sem a qual nenhum líder de culto pode prescindir: o carisma.
Carisma é a habilidade de formar uma proximidade, uma conexão estreita entre você e a pessoa com quem está conversando. Ao nos depararmos com uma pessoa carismática, nossos rostos se iluminam com um sorriso, confiamos em tudo o que ela diz e estamos prontos para concordar com tudo. A lógica se desconecta — isso dificulta perceber o que realmente queremos. Mas ter esse talento natural não é suficiente: para criar a imagem perfeita, você precisa aprender a usá-lo. A maioria dos líderes de culto, incluindo Manson, começa com fracasso. Para entender o que está acontecendo, é preciso um bom tempo. Por um período, Manson trabalhou como instrutor de dança — algo difícil de imaginar, mas foi assim que ele começou a interagir com jovens mulheres. Nesse emprego, Manson não ficou muito tempo e tentou se aventurar em outras áreas de serviços.
Charles Manson queria se tornar o mais bem-sucedido cafetão da América. Ele estava encantado com o fato de que havia mulheres dispostas a trabalhar nas ruas enquanto ele descansava em casa. Mais tarde, isso se tornaria normal para ele, mas dizem que o trabalho de cafetão não é fácil. Frequentemente, Manson tinha no máximo duas ou três mulheres sob seu comando. Na melhor das hipóteses, elas conseguiam ganhar alguns dólares, esperando por um caso rápido no banco da frente do carro. Nesse negócio, não se sobrevive assim, e, no final, ele se tornou um dos cafetões mais ineficazes da América.
Às vezes, a chave para o sucesso está em entender o momento certo. Após uma liberação condicional, Manson foi para São Francisco, onde poderia começar tudo de novo. Foi lá que ele chegou à capital da contracultura dos anos 60 — no bairro de Haight-Ashbury, no auge do «Verão do Amor». Naquela época, havia muito sexo, drogas acessíveis e rock and roll. Charlie percebeu que havia chegado ao paraíso: em cada esquina, jovens inocentes estavam em busca de um guru — alguém que eles adorariam, alguém que seria sua inspiração. No entanto, Manson percebeu que sua imagem não correspondia à época, então começou a mudar para se encaixar nos tempos, mantendo ao mesmo tempo sua peculiaridade — uma mistura de cultura hippie com um toque de perigo. Logo, Charlie começou a atrair pessoas. Ele tinha um olhar hipnotizante que, sem falhar, fazia qualquer adolescente desajustado perder o equilíbrio. Mas, mesmo que você tenha carisma e tenha cuidadosamente criado uma imagem, como Manson, para se tornar o líder de uma seita, você precisa identificar seus potenciais seguidores. E isso pode ser feito com a ajuda de uma técnica do manual de marketing para iniciantes.
LIÇÃO 4. ENCONTRE SEU PÚBLICO-ALVO
Quais características tornam uma pessoa mais vulnerável? Pessoas assim geralmente não têm preconceitos, são idealistas e a comunidade deve dar-lhes a falsa sensação de que, juntos, poderão resolver os problemas do mundo. Quando você caça almas perdidas, a distribuição correta do tempo é de suma importância. Normalmente, ao pensar em potenciais membros de seitas, imaginamos um grupo demográfico específico — jovens. Nessa fase da vida, eles tentam entender quem são, separando seus desejos dos da família, do que lhes foi imposto pelos pais. Não há momento melhor para usar uma pessoa do que esse.
Duas semanas após sua chegada a São Francisco, Charles Manson começa a colocar em prática os conhecimentos mencionados acima e percebe sua primeira vítima — a tímida bibliotecária Mary Brunner. Mary queria amor, mas, além disso, era defensora da natureza. Charles Manson a convenceu de que salvar a natureza era uma das suas principais metas de vida, e logo depois eles começaram a viver juntos. Brunner nasceu em Eau Claire, no estado de Wisconsin, filha de George e Elsie Brunner. Ela se mudou para a Califórnia após concluir a Universidade de Wisconsin em Madison, em 1965, e começou a trabalhar como assistente de bibliotecária na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Ela permitiu que Manson ficasse em seu apartamento, e algumas semanas depois eles se tornaram amantes. Assim, ela se tornou a primeira pessoa a entrar na «Família» de Manson. Ela deixou o emprego, e eles começaram a viajar pela Califórnia em uma van, conhecendo outras jovens mulheres. Logo, Charlie encontrou mais uma seguidora.
Lynette Fromme nasceu em uma família de engenheiro aeronáutico e dona de casa. Quando criança, ela praticava dança e se apresentava com um grupo de Santa Monica em outros estados dos EUA e na Europa. Em 1967, ela conheceu Charles Manson, ao redor de quem se reuniam meninas rejeitadas pela vida. Manson a apelidou de «Squeaky» devido aos sons que ela fazia durante o sexo. Em 1975, Lynette tentou assassinar o presidente dos EUA, Gerald Ford. Ela foi condenada à prisão perpétua, mas foi libertada em 2009. Lynette tinha problemas com o pai: eles brigavam com frequência, o que a levava a fugir de casa. Manson a viu quando ela estava sentada em um banco. Ele a convenceu de que ele foi feito para ela. E os três passaram a viver juntos em uma casa alugada na 636 Cole Street, em São Francisco. Nos dois anos seguintes, a «Família» cresceu, e agora contava com 20 a 30 pessoas vivendo juntas. Alguns deles se tornaram seguidores fervorosos de Manson, como Brunner e Fromme, enquanto outros jovens entravam no grupo e saíam dele. Quem veio a seguir?
Patricia Krenwinkel conheceu Manson em uma festa. Ela era uma garota doce e ingênua. Charles fez de tudo para seduzi-la durante o primeiro encontro. Em entrevistas posteriores, Patricia afirmou que fez sexo com Manson na primeira noite em que se conheceram e que ele foi a primeira pessoa a chamá-la de «linda». Cega pelo carisma de Manson e ansiosa por atenção, Patricia foi com ele e as outras garotas para São Francisco, deixando para trás seu apartamento, carro e último salário. O núcleo da família de Manson começou a ter contornos mais definidos. Como na lenda do Flautista de Hamelin, bastava Charles tocar sua flauta e as meninas se reuniam ao redor dele. Nos meses seguintes, Charlie continuou atraindo novos seguidores. Mas saber encontrar almas perdidas não é o mesmo que encontrar o alvo perfeito. Manson tinha uma regra especial para as pessoas que escolhia. Ele dizia que elas precisavam ser «espancadas», mas não «destroçadas», porque, se fossem «destroçadas», já não havia mais o que fazer.
Quando os futuros adeptos morderem sua isca, é hora de puxar a linha. Charlie sabia como se comunicar com cada uma de suas mulheres como se fosse a única. Ele era um excelente amante, e isso atraía as mulheres para ele. Essas jovens, cada uma delas pensando que era única, de repente se viam como parte de um harém, e aceitavam isso como normal. E, claro, é uma coisa fazer com que as ovelhas desprotegidas o sigam, mas como fazer para que elas não se espalhem?
LIÇÃO 5. VERIFIQUE A LEALDADE
Como líder de uma seita, você terá muitas exigências a fazer aos adeptos, por isso é essencial saber quem vai cobri-lo. Charlie lidava bem com isso: ele adorava testar seus adeptos, testar a fé deles nele e o reconhecimento da sua liderança, para saber quem estava pronto para o mais chocante. E ele não estava sozinho nisso. Marshall Applewhite, também conhecido como Bo, Doe, Guiné, Tiddly e Ninkom, foi um líder religioso americano e fundador do movimento religioso ufológico «Portas do Céu» — um culto destrutivo cujos membros cometeram suicídio em massa. Preparando-se para o chamado «próximo nível», ele até passou por uma cirurgia de castração. Alguns de seus seguidores repetiram a mesma prática, naturalmente, sem a supervisão de um médico.
Rosh Terrio, líder e fundador da seita «Filhos das Formigas das Montanhas», obrigava seus seguidores a participar de lutas de punho por horas em um ringue improvisado, apenas para seu próprio prazer. Ao mesmo tempo, o líder da seita «Ramo de Davi», Viktor Guttuff, testava a lealdade dos discípulos obrigando os homens a manterem o celibato, enquanto ele próprio passava noites com suas esposas. Que dedicação!
No entanto, para o líder de uma seita, o importante não é a própria ação, mas o fato de que, se ele disser para fazer algo, seus seguidores irão cumprir. No caso de Charlie, ele inicialmente preferia fazer testes químicos. Ele realizava encontros da seita e distribuía a cada um uma dose de LSD — uma substância psicoativa semi-sintética da família das lisergamidas. O LSD foi por muito tempo considerado o psicodélico mais conhecido, usado ou ainda utilizado como uma droga recreativa, além de ser uma ferramenta em várias práticas transcendentes, como meditação, psiconáutica e psicoterapia psicodélica, que eram ilegais na época, mas legais no passado. Charlie pessoalmente colocava uma dose na língua de cada um. Ele usava essa cerimônia como uma espécie de comunhão. Supunha-se que todos os membros da seita deveriam passar por essa forma de comunhão inventada por Charlie. Mas os jogos com a mente de seus seguidores estavam apenas começando. Jovens mulheres da seita o chamavam de «Jesus, retornado à Terra», e faziam cruzes em suas testas.
Com o tempo, o programa de confirmação de lealdade de Manson se transformou em um projeto de transformação das casas, chamado de «saídas assustadoras». Seus seguidores vestiam roupas pretas, iam até casas alheias e invadiam-nas durante a noite. Inicialmente, eram apenas brincadeiras: os seguidores causavam distúrbios. Claro, o objetivo não era apenas zombar dos donos das casas — era também mais uma maneira de avaliar a obediência e a devoção. Se você estudou atentamente a primeira lição do manual, agora pode avaliar corretamente a situação. Você trabalhou na ideologia e na imagem, criou um grupo de discípulos fiéis, prontos para fazer tudo o que você exigir. Mas ainda há um obstáculo para alcançar a grandeza da sua seita: ainda ninguém sabe quem você é. Charles Manson rapidamente resolveu isso.
LIÇÃO 6. FAÇA BARULHO
Os líderes de seitas sabem muito bem como estar sempre no centro das atenções. Se não conseguissem fazer isso, de onde viriam seus seguidores? Se alguém ao seu redor ousasse tomar a atenção que, na opinião dos líderes, deveria ser exclusivamente deles, essas pessoas teriam problemas. Antes de Charles começar a criar sua seita, ele tinha um plano para atrair atenção. Já na prisão, aprendeu a tocar guitarra e planejava se tornar uma estrela do rock. E onde mais poderia realizar esse sonho, senão em Los Angeles, ensolarada? Assim, Charles e sua «família» se mudaram para Los Angeles, onde ele planejava fazer conexões com pessoas que poderiam ajudá-lo a conseguir um contrato de gravação.
Felizmente, Charles tinha uma arma secreta: fãs atraentes e determinadas. Manson usou essas garotas para seus próprios fins — elas andavam por Los Angeles tentando se conectar com estrelas do rock. Uma delas até conheceu Dennis Wilson, do grupo Beach Boys, que na época era uma das bandas mais populares do mundo. Dennis pegou algumas garotas quando elas estavam fazendo carona e elas ficaram empolgadas com a oportunidade de apresentar Dennis ao seu líder. Dennis se divertiu com as garotas em sua mansão, até que saiu para o estúdio de gravação. Ao voltar para casa depois da meia-noite, teve uma grande surpresa. Charles apareceu em sua casa sem ser convidado. Acredite ou não, mas Dennis ficou intrigado com esse evento. Charles lhe agradou, especialmente a sua «congregação» de garotas que ele havia reunido, e a maneira como essas garotas faziam tudo o que ele queria. Assim, Manson e sua «família» passaram o verão inteiro na mansão de Dennis, aproveitando os frutos de sua fama. «Meninas, estamos indo embora», «Façam qualquer coisa com a música, só não toquem na letra da canção». Charles, por sua vez, estava compondo músicas, e Dennis acertou a gravação de uma delas com seu irmão, em seu estúdio caseiro. Ele ficou furioso porque não o fizeram uma estrela, já que, em seus pensamentos, ele era único e não queria que ninguém tirasse essa singularidade dele. De qualquer forma, Charles não estava disposto a desistir. Ele decidiu que todos os representantes da indústria musical eram corruptos e anunciou que se vingararia deles.
A situação estava se desenvolvendo rapidamente, preste atenção. Charles dizia que começaria uma guerra racial e informou seus seguidores que os levaria para o deserto, onde se tornariam os governantes daquele mundo. Mas como a «grande guerra» não começava, Charles decidiu iniciá-la por conta própria e transformou seus fiéis seguidores em uma arma mortal, na esperança de que esses crimes causassem caos e violência racial. No entanto, seu plano falhou. Cinco membros da «família» Manson, incluindo o próprio Charles, foram presos, acusados de assassinatos e considerados culpados. Não se passaram três anos desde a criação de sua «família» e Manson foi preso até o fim de seus dias. Em alguns círculos, ele se tornou uma lenda, mas sua chama se apagou antes que ele percebesse seu potencial como líder de uma seita. Superá-lo seria fácil.
O próximo capítulo do guia ensinará como transformar sua seita em um movimento que seguirá você para onde quer que vá. Quem é o mentor? A pessoa cuja congregação cresceu tanto que construiu uma cidade para ele. O pregador Jim Jones — um filho da mãe louco que matou 900 pessoas.
Capítulo II. EXPANSÃO
Graças ao manual, seu projeto de criação de uma seita está indo a todo vapor, e você até conseguiu reunir um pequeno grupo de seguidores leais. Mas, para dar o próximo passo, seja mais decidido. Se você deseja que sua seita prospere por muito tempo, é necessário expandir seu público. Os seguidores são como o dinheiro em uma conta bancária: quanto mais você tiver, mais poder você terá. No entanto, não se esqueça de outras vantagens: a fidelidade fantástica, o dinheiro que vem para você dos céus e, claro, o sexo bastante desordenado dentro da comunidade. Mas, no início, as pessoas só queriam algo em que acreditar! Faça com que acreditem que suas intenções são boas. Eles não devem perceber que estão sendo manipulados. Assim que isso acontecer, pode contar que tudo estará perdido.
Nosso próximo mestre é o Reverendo Jim Jones, que não só soube expandir sua seita, mas também criou uma comuna. O seu «Templo dos Povos» cresceu de cinquenta seguidores em Indiana para quase vinte mil devotos em dois continentes. Claro, ele cometeu alguns erros, mas é preciso reconhecer que Jim Jones sabia exatamente como atrair e manter a atenção das massas. Jim Jones começou como um simples pregador e se tornou um messias de proporções incríveis, tendo acesso a assuntos de autoridades governamentais. Um crescimento significativo para alguém que, no passado, vendia macaquinhos! Ele era muito carismático e incrivelmente inteligente, capaz de encontrar uma abordagem para cada pessoa. Mas, muito antes de se tornar o governante paranoico da infeliz comuna na selva, o jovem Jim só tentava encontrar seu lugar no mundo. Vamos descobrir o que podemos aprender com Jim para nos tornarmos grandes líderes de seitas, e começaremos pelas origens.
Fato 1. Jones foi obcecado pela religião desde jovem. Ele cresceu no interior do estado de Indiana. Na sua cidade natal, havia cinco igrejas, e ele frequentava todas. Todo domingo, ele corria de um serviço para o outro, o terceiro e assim por diante. Enquanto outras crianças brincavam de médicos e pacientes, ele preferia brincar de pastor e fiéis. Ele se vestia como…
Fato 2. Na infância, Jones tinha um herói incomum. Ele admirava Hitler — pela sua habilidade excepcional de controlar seus seguidores, assim como pela decisão de cometer suicídio quando estava cercado pelos inimigos, pois não havia para onde fugir.
Fato 3. Jim Jones ficou famoso por lutar contra as injustiças sociais. Parece difícil de acreditar, mas na década de 1950 ele era um defensor dos direitos civis. Sempre se preocupou com questões de igualdade e sociais. Jones tinha uma família grande e próspera, com filhos de diferentes raças. Ele parecia tão sincero, mas, com o tempo, a seita se transformou em um grupo totalitário, com um líder que tinha poder absoluto sobre seus seguidores. De um devoto admirador de Hitler a um líder despótico de seita — pode-se dizer que Jim completou o círculo vicioso. No entanto, repetir seu sucesso não será fácil. Além disso, será necessário um milagre.
LIÇÃO 7. ENGANE A MENTE DAS PESSOAS
Por almas perdidas, muitas vezes lutaram líderes carismáticos. Se você deseja atraí-las para o seu grupo, é necessário conquistar uma autoridade maior. Você precisa, de algum modo, convencer as pessoas de que você não é como todos os outros, que você é melhor ou até mesmo realiza milagres. Essa fórmula foi testada ao longo do tempo. Shoko Asahara, líder do «Aum Shinrikyo» (organização proibida na Rússia), uma seita destrutiva fundada no budismo vajrayana, a fundou em 1987. Ela ganhou notoriedade mundial em 1995, quando realizou um ataque terrorista com gás no metrô de Tóquio. Shoko Asahara aumentava o número de adeptos de seu culto do fim do mundo publicando fotos em que levitava.
Warren Jeffs, líder de uma seita poligâmica, alegava ter herdado a capacidade de se comunicar com Deus. Isso, segundo ele, lhe dava o direito de designar várias esposas aos adeptos durante a vida. Em 2011, Warren Jeffs foi condenado à prisão perpétua, com possibilidade de liberdade condicional após 20 anos, por dois casos de abuso sexual de menores. Ele ganhou notoriedade internacional em maio de 2006, quando entrou na lista dos dez criminosos mais procurados pelo FBI, por tentar se esconder da justiça, que o acusava de organizar casamentos com menores de idade.
Já o líder da seita brasileira João de Deus reuniu milhares de seguidores ao afirmar que Deus lhe concedeu o poder de curar AIDS e câncer. No entanto, mais tarde ele foi condenado por 600 casos de abuso sexual. Mas, sem dúvida, seus milagres serão mais bem recebidos. Quando Jim Jones decidiu reunir um rebanho, ele sabia o método eficaz de atrair as pessoas. Em uma área remota do estado de Indiana, ocorriam encontros de despertar espiritual — e que apresentações eles organizavam! Um dos elementos principais era a cura. A cura pela fé é uma tradição cristã secular, existente por séculos. Não há justificativa científica para a cura pela fé, e os céticos acreditam que as pessoas se curam devido ao pensamento positivo. Mas se alguém acredita que o pastor é um profeta enviado por Deus, ele irá querer acreditar também nos milagres.
Desde a fundação de sua primeira igreja, Jones começou a afirmar que conseguia sentir a dor humana, e logo acrescentou à sua atuação curas completas. E o mais incrível — às vezes ele realmente conseguia. Ele possuía, de fato, o dom da cura? Jones afirmava que não sabia. Às vezes ele conseguia, outras vezes não. Portanto, à medida que sua comunidade crescia, ele começava cada vez mais a encenar essas curas. Logo, Jones passou a diagnosticar câncer nas pessoas, algo que ninguém desconfiava, querendo mostrar que podia curar todas as doenças. Eles tosseavam «a formação» que supostamente tinham nos pulmões — esse era o truque favorito, sempre muito pomposo. Aqueles que fingiam ter câncer eram seguidores fervorosos de Jones. Normalmente, usavam vísceras de frango, que supostamente tossiam em um lenço. Assistentes observavam para garantir que o público visse de longe, mas se alguém se aproximasse para pegar o «que foi tossido», os assistentes deviam enfiar as vísceras na boca e engolir.
Embora as curas fossem falsas, elas se tornaram o cartão de visita de Jones. Ele conseguiu impressionar até os céticos e, graças à boa encenação, seu rebanho continuou a crescer. Jones combinava arte com engano e depois adicionou Deus a isso. Essa combinação fazia com que as pessoas o seguissem para qualquer lugar. Então, seus milagres se tornaram uma sensação — bravo! No entanto, nem todos se interessam por esse tipo de cura, e ainda é necessário expandir sua audiência. Neste guia, você encontrará a solução para esse problema. Ouse!
LIÇÃO 8. FAÇA UMA APRESENTAÇÃO
Como líder emergente, você precisa transmitir sua ideia para todas as camadas da sociedade, e, nesse aspecto, Jim Jones era incomparável. Ele era um manipulador habilidoso — as pessoas a seu serviço sentiam que ele falava exclusivamente com elas e se sentiam importantes. Ele era incrivelmente carismático e conseguia estabelecer contato com qualquer audiência. O segredo de Jones era uma técnica comprovada pelo tempo, chamada «alternância de código». A alternância de código consiste na mudança de uma língua ou dialeto para outro dentro de uma mesma conversa, ou até mesmo dentro de uma única frase.
À medida que sua fama crescia, Jones viajava pelos Estados Unidos e, para cada apresentação, escolhia uma nova forma de abordagem, a fim de estabelecer contato com o público local. Para começar, ele se estabeleceu em Indianápolis, onde seu principal público eram mulheres afro-americanas idosas. Para elas, ele pregava de maneira semelhante a um pastor pentecostal. Quando a igreja se mudou para Redwood Valley, na Califórnia, onde predominavam os conservadores brancos, ele passou a ser um defensor dos valores familiares. E, quando estudantes da universidade local começaram a frequentar os cultos, suas pregações passaram a incluir citações de Nietzsche e Mao. Em seus discursos, ele começou a mencionar cada vez mais a ideia de carma e flertava com os ensinamentos orientais, que eram populares na época.
Quando Jones transferiu a igreja para sua localização final — no centro de São Francisco — ele sentiu o clima do público e passou a falar sobre uma revolução social radical. Mas, assim que a audiência começava a perder o interesse, Jones recorria ao tema que nunca falhava: a ideia da morte iminente. Uma coisa é motivar as pessoas a entrar na seita, outra coisa é garantir que elas permaneçam. A próxima lição deste manual mostrará como manter a fé da crescente congregação.
LIÇÃO 9. FAÇA VOCÊ CONTRIBUIR
O que quer que digam sobre as seitas, elas unem as pessoas. É agradável para um ser humano estabelecer conexão com outros membros de sua espécie. Ele gosta de cantar e dançar, além de fazer coisas que pareceriam cultas. E nada une mais do que a convivência forçada de adultos desconhecidos. Todos os verdadeiros líderes de seitas sabem disso.
Shoko Asahara uniu seus seguidores, colocando-os em uma habitação comunitária cheia de parasitas, pois, segundo seus ensinamentos, não se deve matar nenhum ser vivo. Os seguidores do guru indiano Bhagwan Rajneesh participaram ativamente na construção da comunidade autônoma «Rajneeshpuram», perto de Antílope, no estado do Oregon, na década de 1980, onde podiam praticar sua fé, liberdade sexual e terapia de nudismo. Já os membros da seita «Buddhafield» passavam todo o seu tempo livre e dinheiro servindo ao seu guru, Jaime Gómez. Eles até construíram um teatro de balé para ele.
Jones tinha uma solução inteligente e lucrativa para unir os seguidores em torno de um objetivo comum — ele chamou isso de «socialismo apostólico». Os doze apóstolos de Jesus Cristo viveram juntos em uma comuna. Por isso, ele decidiu que seu rebanho também deveria viver em uma comuna, e, para cobrir os custos desse modo de vida, ordenou que seus seguidores entregassem todos os seus bens materiais em prol da igreja. Ele conseguia facilmente convencer as pessoas a vender qualquer propriedade que possuíssem e entregar todo o dinheiro para a igreja. E, se alguém não fosse suficientemente convencido, ele incutia um sentimento de culpa, dizendo que havia feito muitos sacrifícios em sua vida para ajudar as pessoas. Ele dizia que poderia ter se tornado rico, e, por isso, se pedisse algo, todos deveriam cumprir.
Jones usava o dinheiro dos seguidores e seu trabalho não remunerado para alcançar o público. Eles podiam distribuir sopa na cantina, levar comida aos necessitados ou ler para os idosos em casas de repouso no templo. Também podiam consertar carros na oficina, passar os finais de semana escrevendo cartas de louvor a Jones para autoridades, escrever ou editar artigos para o jornal da seita, além de imprimir e distribuir jornais nas casas. As possibilidades infinitas correspondiam a infinitas horas de trabalho. Não se tratava apenas de um trabalho na igreja aos domingos — as pessoas se entregavam de corpo e alma, e isso se tornava o sentido de suas vidas. Assim, ele dava às pessoas uma sensação de pertencimento, mas também obtinha controle absoluto sobre suas vidas. Mesmo que você tenha criado uma comuna de sucesso em sua casa, ainda há um mundo inteiro que nem imagina o que você pode oferecer a ele. É hora de se dedicar a isso de forma séria.
LIÇÃO 10. EXPANDIR TERRITÓRIOS
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